A tendência neurótica ou psicótica que era atribuída a Pessoa manifesta-se em sintomas de despersonalização. O processo de heteronímia por ele iniciado a 8 de Março de 1914, dia considerado pelo poeta como “triunfal” (nascimento de Caeiro com dezanove poemas de O Guardador de Rebanhos, consciência da existência de Reis e aparecimento impetuoso de Campos com a sua Ode triunfal”) dá conta dessa tendência de multiplicação em varias personalidades, o que o leva a considerar-se um “poeta dramático” e afirma “não evoluo, viajo”.
Permanentemente preocupado e angustiado com a sua existência múltipla, Pessoa perspectiva em cada heterónimo um fragmento de uma totalidade a que aspira, de forma irremediável, porque cada um, á sua maneira, sofre da mesma angustia de existir.
Vejamos então estas “várias figuras irreais” que pessoa confere realidade e que assumem, através da imaginação do poeta, uma identidade construída com padrões de verosimilhança:
Alberto Caeiro -Surgiu de uma partida que Pessoa queria fazer a Mário de Sá-Carneiro (inventar um poeta bucólico e apresentar-lho em qualquer espécie de realidade). Abrindo como titulo O guardador de Rebanhos aparece o Mestre( Alberto Caeiro)
· Nasce em Lisboa, em 1889, e morre tuberculoso em 1915, vivendo a maior parte da sua vida no campo. Apresenta estrutura média e um aspecto frágil, louro sem cor, cara rapada e olhos azuis. Não tem profissão, apenas fez a instrução primária; fica órfão de país muito jovem e vive com uma avó tia-avó, com pequenos rendimentos.
Álvaro de Campos – Surge como discípulo de Alberto Caeiro
· Nasce em Tavira, a 15 de Outubro de 1890, à 1:30 da tarde. Branco e moreno, de cara rapada e cabelo liso com risca ao lado, usa monóculo e faz lembrar um judeu português. É alto (1,75m), magro, um pouco curvado. Forma se em Engenharia Naval , em Glasgow, tem um percurso cosmopolita- Londres, Escócia, Oriente – frequenta os melhores hotéis e conduz um chervolet.
Ricardo Reis - É conhecido como o mais clássico dos heterónimos pessoanos
· Nasce em 1887, no Porto, é educado num colégio de jesuítas, recebendo uma educação latinista e tornando-se, por autodidactismo, um amante da cultura helénica. É mais baixo, mais forte e mais seco que Caeiro, e, tal como ele, de cara rapada. Forma-se em Medicina e exila-se voluntariamente no Brasil, a partir de 1919, por ser monárquico.
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