Os Lusíadas, Luís de Camões / Mensagem de Fernado Pessoa





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A obra Os Lusíadas é um poema épico escrito por Luís de Camões, publicado em 1572.

“Aqui jaz Luís de Camões, Príncipe dos Poetas de seu tempo. Viveu pobre e miseravelmente, e assi morreu”


Luís de Camões nasceu em 1524 ou 25, provavelmente em Lisboa, filho de Simão Vaz de Camões e Ana de Sá.
Tudo parece indicar, embora a questão se mantenha controversa, que Camões pertencia à pequena nobreza. Um dos documentos oficiais que se lhe refere, a carta de perdão datada de 1553, dá-o como «cavaleiro fidalgo» da Casa Real. A situação de nobre não constituía qualquer garantia económica.
Os vastos conhecimentos e cultura do poeta são normalmente justificados por este ter frequentado o ensino superior. Camões provavelmente estudou em Coimbra, pelo facto de se referir, na lírica, a “longo tempo” passado nas margens do Mondego, ligado à circunstância de, pela época que provavelmente seria a dos estudos, um parente de Camões, D. Bento, ter ocupado os cargos de prior do mosteiro de Santa Cruz de Coimbra e de professor da mesma Universidade, levou à constatação que Camões ter estudado em Coimbra, frequentando o mosteiro de Santa Cruz.
Mas nenhum documento atesta a veracidade desta hipótese, embora não haja dúvida de que o poeta tenha passado pela Universidade.
Antes de 1550 estava a viver em Lisboa, onde permaneceu até 1553. Essa estadia foi interrompida por uma expedição a Ceuta onde foi ferido e perdeu um olho.
Em Lisboa, participou com diversas poesias nos divertimentos poéticos a que se entregavam os cortesãos; relacionou-se através desta actividade literária com damas de elevada situação social, entre as quais D. Francisca de Aragão; e com fidalgos de alta nobreza, com alguns dos quais manteve relações de amizade. Representa-se por esta época um auto seu denominado de “El-rei Seleuco” em casa de uma importante figura da corte.
Estes contactos palacianos não devem contudo representar mais do que aspectos episódicos da sua vida, pois a faceta principal desta época parece ser aquela de que dão testemunho as cartas (escritas de Lisboa e da Índia).
Descobriu-se, através do calão conceituoso, retorcido e sarcástico, um homem que escreve ao sabor de uma irónica despreocupação, vivendo apenas do destino, boémio e desregrado. Divide-se entre as amantes (sem pruridos sobre a qualidade das mulheres com quem priva) e a estroinice de bandos de rufiões, ansiosos por rixas de taberna ou brigas de rua onde possam dar largas ao espírito valentão, sem preocupações com a nobreza das causas por que se batem.
Não parece, por esta época, ter modo de vida; e esta imprudência a descambar para a dissolução está de acordo com os documentos através dos quais podemos reconstruir as circunstâncias da sua partida para a Índia.
Na sequência de uma desordem ocorrida no Rossio, em dia do Corpo de Deus, na qual feriu um tal Gonçalvo Borges, foi preso por largos meses na cadeia do Tronco e só saiu – apesar de perdoado pelo ofendido – com a promessa de embarcar para a Índia. Além de provável condição de libertação, é bem possível que Camões tenha visto nesta aventura – a mais comum entre os portugueses de então – uma forma de ganhar a vida ou mesmo de enriquecer. Aliás, uma das poucas compatíveis com a sua condição social de fidalgo, a quem os preconceitos vedavam o exercício de outras profissões.
Foi soldado durante três anos e participou em expedições militares que ficaram recordadas na elegia O poeta Simónides, falando (expedição ao Malabar, em Novembro de 1553, para auxiliar os reis de Porcá) e na canção Junto de um seco, fero, estéril monte (expedição ao estreito de Meca, em 1555).
Esteve também em Macau, ou noutros pontos dos confins do Império, desempenhando as funções de provedor dos bens dos ausentes e defuntos.
Não é ponto assente. Mas o que se sabe é que a nau em que regressava naufragou e o poeta perdeu o que tinha amealhado, salvando a nado Os Lusíadas na foz do rio Mecon, episódio a que alude na estância 128 do Canto X.
Para cúmulo da desgraça foi preso à chegada a Goa pelo governador Francisco Barreto.
Ao fim de catorze anos de vida desafortunada, interrompida certamente por períodos mais folgados, sobretudo quando foi vice-rei D. Francisco Coutinho, conde de Redondo (a quem dedicou diversos poemas que atestam relações amistosas), empreende o regresso a Portugal. Vem até Moçambique a expensas do capitão Pero Barreto Rolim, mas em breve entra em conflito com ele e fica preso por dívidas. Diogo do Couto relata mais este lamentável episódio, contando que foram ainda os amigos que vinham da Índia que, ao encontrá-lo na miséria, se cotizaram para o desempenharem e lhe pagarem o regresso a Lisboa. Diz-nos ainda que, nessa altura, além dos últimos retoques nos “Os Lusíadas”, trabalhava numa obra lírica, o Parnaso, que lhe roubaram – o que, em parte, explica que não tenha publicado a lírica em vida.
Chega a Lisboa em 1569 e publica Os Lusíadas em 1572, conseguindo uma censura excepcionalmente benévola.
Apesar do enorme êxito do poema e de lhe ter sido atribuída uma tença anual de 15000 réis, parece ter continuado a viver pobre.
Morreu em 10 de Junho de 1580. Algum tempo mais tarde, D. Gonçalo Coutinho mandou gravar uma lápide para a sua campa com a citação:
“Aqui jaz Luís de Camões, Príncipe dos Poetas de seu tempo. Viveu pobre e miseravelmente, e assi morreu”

Lusíadas - significa 'Lusitanos', ou seja, são os próprios lusos,  com a sua alma e com a sua ação. Desta forma o tema geral escolhido por Camões para o seu poema foi toda a história de Portugal, assim se justifica : Os Lusíadas.
O tema central da obra é o descobrimento do caminho marítimo para a Índia. Para o seu tratamento literário, Camões criou uma história mitológica onde seres sobrenaturais - os deuses - contribuem para a evolução da ação, alguns opondo-se à viagem de Vasco da Gama, outros favorecendo-a. Ao mesmo tempo, são evocadas por Vasco da Gama ao rei de Melinde as glórias da nacionalidade, numa síntese da História de Portugal. Geralmente, no início e no fim dos cantos, o poeta faz diversas considerações revelando as suas opiniões, reflexões e críticas.




 

A estrutura externa refere-se à análise formal do poema: número de estrofes, número de versos por estrofe, número de sílabas métricas, tipos de rimas, ritmo, figuras de estilo entre outros aspetos. Desta forma:
- O Lusíadas é constituído por dez partes, liricamente chamadas de cantos;
- Cada canto possui um número variável de estrofes (em média, 110);
- As estrofes são oitavas, tendo portanto oito versos; a rima é cruzada nos seis primeiros versos e emparelhada nos dois últimos (AB AB AB CC, ver na citação ao lado);
- Cada verso é constituído por dez sílabas métricas (decassilábico), na sua maioria heroicas (acentuadas nas sextas e décimas sílabas).
A estrutura interna está diretamente relacionada com o conteúdo do texto. Esta obra mostra ser uma epopeia clássica ao dividir-se em quatro partes:
Proposição - introdução, apresentação do assunto e dos heróis, Camões propõem-se cantar as navegações e conquistas, no Oriente nos reinados de D. Manuel e D. João
(estrofes 1,2, 3 do Canto I);
Invocação - o poeta invoca as ninfas do Tejo e pede-lhes a inspiração para escrever com grande estilo e eloquência a obra que se propôs realizar.
1º- Estrofes 4 e 5 do Canto I – As Tágides
2º- Estrofes 1 e 2 do Canto III – Calíope
3º- Estrofes 78, 87 do Canto VII – Ninfas do Tejo e do Mondego
4º- Estrofes 8 e 9 do Canto X – Calíope;
Dedicatória - o poeta dedica a obra ao rei D. Sebastião
(estrofes 6 a 18 do Canto I);
Narração – corresponde à narrativa da viagem, “in medias res”, isto é, quando a armada já se encontrava ao largo de Moçambique. O poeta procura concretizar aquilo que se propôs fazer na Proposição.
Os planos temáticos da obra são:
Plano da Viagem (representa a ação central do pomea) - trata-se  da viagem da descoberta do caminho marítimo para a Índia de Vasco da Gama e dos seus marinheiros. Luís de Camões considerou a descoberta do caminho marítimo para a Índia o acontecimento de maior relevância na História de Portugal, sentindo a necessidade de introduzir um segundo nível narrativo de modo a enriquecer a sua epopeia, que corria o risco de se tornar um diário de bordo.
Cantos: I, II, IV, V, VI, VII, VIII;
Planos da História de Portugal (Plano Encaixado) - são relatados os episódios mais marcantes da história de Portugal com o objetivo de enaltecer “o peito ilustre lusitano”. O plano da História de Portugal corresponde a dois momentos importantes: a narrativa de Vasco da Gama ao rei de Melinde, onde o narrador localiza o reino de Portugal na Europa assim como lhe conta a História de Portugal até ao reinado de D. Miguel de forma a dar a conhecer um pouco de si ao rei de Melinde e a narrativa de Paulo da Gama ao Catual onde o narrador narra vários episódios da História de Portugal, pretexto utilizado para explicar o significado das bandeiras a Catual.
    Cantos: III, IV, VIII;
Plano do Poeta (Plano Ocasional) - Camões refere-se a si mesmo enquanto poeta admirador do povo e dos heróis portugueses apresentando as suas reflexões sobre assuntos diversos, a propósito dos factos narrados.
Cantos: I, III, V, VI, VII, VIII, IX, X;
Plano Mitológico (Plano Paralelo) - são descritas as influências e as intervenções dos deuses da mitologia greco-romana na ação dos heróis de forma a engradecer os feitos dos Portugueses.
 Cantos: I, II, VI, IX, X;
Ao longo da narração deparam-se-nos vários tipos de episódios: bélicos, mitológicos, históricos, simbólicos, líricos e naturalistas.



A Mitificação do Herói
Proposição (Sumário do poema; aspetos fundamentais)


. Expressão da intenção do poeta -» Glorificar os feitos dos portugueses através do canto épico.
. Indicação da dimensão coletiva do herói
. Anúncio dos quatro planos estruturais da narração:
- O Plano da Viagem
- O Plano da História
- O Plano do Poeta
- O Plano Mitológico
. Camões ascende os humanos a um plano de imortalidade, pela grandeza e pela suplantação dos Deuses.
O Processo de mitificação eleva o herói a um estatuto superior e imortal que suplanta o dos heróis antigos (Ulisses, Eneida, Alexandre etc.)Invocação (invocação de divindade para ajuda na criação de um estilo diferente, de grandiosidade, para cantar os feitos dos heróis portugueses)
Dedicatória (dirigido ao Rei D. Sebastião) por vários motivos:

- Motivo de ordem material: Benéfico economicamente (o que aconteceu com a atribuição de uma tença;
- Motivos de natureza elevada: Ao cantar a imortalidade do herói, ele próprio também se torna imortal.

A Dedicatória é mais um momento de glorificação/mitificação do herói. Mas existem outros momentos que elevam a grandeza do homem:
No plano da História de Portugal:

- Viriato (canto III est. 22): o "pastor", o primeiro responsável pela criação de Portugal.
- Egas Moniz (canto III est. 35-40, invocado através de Vasco da Gama): Amo de D. Afonso Henriques, a quem era fiel e leal, oferece a sua vida ao Rei de Castela.
- Batalha de Ourique (canto III est. 24): o poeta assinala a supremacia do exército Mouro, sobre o português. Todavia D. Afonso Henriques vence o inimigo de forma heroica.
- Batalha de Aljubarrota (canto IV est.28 a 45): o poeta invoca a figura Nun’Alvares Pereira, o herói que desafia os seus compatriotas a lutarem contra os invasores. O poeta evidencia os atributos próprios de um herói:
. Audácia
. Liderança
. Determinação
. Energia
. Sabedoria
. Defesa de um ideal da liberdade
Os portugueses conseguem a vitória sobre os castelhanos, garantido a defesa da liberdade da pátria do domínio castelhano.
 
No plano da viagem:
"As Cousas do Mar" – os portugueses deparam-se com vários fenómenos:
. O fogo Santelmo
. Tromba marítima
A superação do medo torna os navegadores portugueses em verdadeiros argonautas.
O episódio do Adamastor – simboliza a luta desproporcional entre os homens e os deuses. (canto V est. 37-60)
Este episódio liga ao da Ilha dos Amores quando Vasco da Gama interroga o gigante sobre a sua identidade.Os limites da condição humana, o escorbuto:
(canto V est. 81-85)
Vasco da Gama canta de forma emotiva e pungente, o sofrimento dos marinheiros que morreram devido ao escorbuto. A dor dos que morreram pela pátria é mais um degrau na mitificação do herói.Ilha dos Amores:
 (cantos IX e X est. 18-92 e 1-142)
A chegada das naus constitui o ponto máximo do processo de mitificação dos heróis. O amor aparece como Prémio e forma de alcançar a imortalidade. São as próprias deusas que escolhem os homens – navegadores - para com eles se relacionarem, legitimando, assim, o seu estatuto de heróis e imortalizando-os.
Dentro do episódio assiste-se a um progressivo construir de um ambiente que potencializa a divinização dos heróis.
. O aparecimento da ilha, mágico e súbito;
. A discrição amorosa e sensacional da ilha, correspondente ao "locus amoenus" clássico;
. Os jogos de sedução das "belas deusas" aconselhadas pela "mestra ezperta", após o desembarque dos heróis portugueses;
. A coroação e a sagração dos heróis através do amor sensual com as ninfas;
. A constatação de que o esforço e o sacrifício conduzem à "fama grande";
. Os deleites que a ilha oferece.
Mitificação do heróiHerói
 (do grego: "senhor", "príncipe")
Aquele que se eleva da média humana
Pela sua coragem, energia e sabedoria na:
* Defesa de ideal
* Combate contra ao seres humanos e as formas da Natureza
* Fundação/libertação de um(a) cidade, pais ou território




Os heróis n’os Lusíadas
. Corajosos, ousados e patrióticos, enfrentam e vencem não só as forças da natureza, mas também adversários mesquinhos e maldosos;
. Espírito de sacrifício, tudo suportam, em nome de um ideal elevado;
. Marcados pela fé, abençoados por deus e por Ele protegidos;
. Bondosos, generosos, nobres, afáveis em relação aqueles que o merecem;
. Pertencem a uma classe social elevada, o seu vestuário é elegante e rico;
. São eloquentes (fazem belos discursos);
. Só eles acederão à glória e à sublimação.

  Sistematizando…
. A ousadia do homem fê-lo superar-se, ao conquistar terras e mares;
. Por isso os homens são imortalizados: tornam-se deuses;
. Metaforicamente, a viagem de Vasco da Gama é a conquista da verdade (por isso Vasco da Gama poderá contemplar a “maquina do mundo”;
. Através do erotismo da ilha dos amores, os homens entram em comunhão com o divino;
. Assim, a ilha dos amores (olimpo simbólico) representa a essência da vida: o Amor e o Conhecimento.




Reflexões do Poeta: críticas e conselhos aos Portugueses

O poeta canta, louva os Portugueses, mas também os censura de forma decisiva.
De uma certa forma,  faz referencia aos grande perigos com que o povo luso se depara, a tormenta e o dano no mar, a guerra e o engano em terra; e de outro modo elogia a expansão territorial para divulgar a Fé Cristã, manifesta o seu patriotismo e exorta D. Sebastião a dar continuidade à obra grandiosa do “peito ilustre lusitano”.
Por outro lado lamenta que os Portugueses nem sempre aliar a força e a coragem ao saber e à eloquência, destacando a importância da literacia e da cultura.
Critica negativamente todos aqueles que ambicionam alcançar a imortalidade, fazendo referencia que a cobiça, a ambição e a tirania são dignidades  vãs que não dão verdadeiro valor ao homem.  Lamenta também a importância desmedida ao dinheiro, fonte de corrupção e de traições.
Lembrando o seu “honesto estudo”, “longa experiência” e “engenho”, “Cousas que juntas se acham raramente”, confessa estar cansado de “cantar a gente surda e endurecida” que não dá valor ao dom que lhes é feito.




Mensagem, Fernando Pessoa
O mar sem fim é português
                                     Fernando pessoa
Carácter épico-lírico
Mensagem de Fernando pessoa é uma obra épico-lírica, assume-se como uma epopeia, parte de um núcleo histórico (heróis e acontecimentos da História de Portugal), mas apresenta uma dimensão subjetiva introspetiva, de contemplação interior, característica própria do lirismo.


Estrutura da obra e valores simbólicos


A Mensagem encontra-se dividida em três partes, cada uma delas subdividida noutras. Esta tripartição é simbólica e tem como base o facto de as profecias se realizarem três vezes, ainda que de modo diferente e tempos diferentes. Corresponde à evolução do Império Português que, tal como o ciclo da vida, passa pelo nascimento, realização e morte. Todavia, esta morte não poderá ser entendida como um fim definitivo, visto que a morte pressupõe uma ressurreição. Esta ressurreição culmina com o aparecimento de um novo império, desta vez não terreno, mas sim espiritual e cultural, a fim de atingir a paz universal ("E a nossa grande Raça partirá em busca de uma índia nova, que não existe no espaço, em naus que são construídas daquilo de que os sonhos são feitos" - Fernando Pessoa).


Cada uma das partes da Mensagem começa com uma expressão latina, adequada à parte simbólica a que pertence. Fernando Pessoa inicia a obra com a expressão latina Benedictus Dominus Deus noster que dedit nobis signum ("Bendito o Senhor Nosso Deus que nos deu o sinal") que nos remete para o carácter simbólico e messiânico da Mensagem.


A 1ª parte – Brasão (Bellum sin bello. - Guerra sem guerra.) - faz desfilar os heróis lendários ou históricos, desde Ulisses a D. Sebastião, ora invocados pelo poeta, ora definindo-se a si próprios. O poeta começa por fazer a localização de Portugal na Europa e em relação ao Mundo, salientando a sua magnitude; apresenta a definição de mito (de modo paradoxal, "O mito é o nada que é tudo"), realçando o seu valor na construção da realidade; apresenta ainda o povo português como o construtor do império marítimo, assim como revela os predestinados, responsáveis pela construção do país.


A 2ª parte - Mar Português ( Possessio maris. – A posso do mar.) - apresenta poesias inspiradas na ânsia do Desconhecido e no esforço heroico da luta com o Mar. É nesta parte que o poeta salienta a grandeza do sonho convertido em Acão, unificando o ato humano e o Destino traçado por Deus. Surge à cabeça desta parte o poema "O Infante", para vincar a relação entre o poder de Deus na criação, o Homem como agente representante e a obra como resultado de toda esta relação lógica ("Deus quer, o homem sonha, a obra nasce"). Os outros poemas evocam as glórias e as tormentas passadas ao concretizar-se o sonho dos Descobrimentos.


A 3ª parte - O Encoberto (Pax in excelsis. – Paz nas alturas.) - apresenta o atual Império decadente, Portugal baço "a entristecer", pois "Tudo é incerto e derradeiro. / Tudo é disperso, nada é inteiro." (“Nevoeiro”). Face a esta constatação, o poeta considera que chegou a hora de despertarmos para a nossa missão: a constituição de um Quinto Império, um reino de liberdade de espírito e de redenção (“Ó Portugal, hoje és nevoeiro... / É a Hora! ", em "Nevoeiro"). A Mensagem termina com a expressão latina Valete Fratres ("Saúde, irmãos"), um grito de felicidade e um apelo para que todos lutem por um novo Portugal.

Resumido…
1. Nascimento – 1ª Parte “Brasão”Fundação da nacionalidade, desfile de heróis lendários ou históricos, desde Ulisses a D. Afonso Henriques, D. Dinis ou D. Sebastião.
2. Realização – 2ª Parte “Mar Português”Poemas inspirados na ânsia do Desconhecido e no esforço heroico da luta com o mar. Apogeu da ação portuguesa dos Descobrimentos, em poemas como “O Infante”, “O Mostrengo”, “Mar Português”.
3. Morte – 3ª Parte “O Encoberto”Morte das energias de Portugal simbolizada no “nevoeiro”; afirmação do sebastianismo representado na figura do “Encoberto”; apelo e ânsia messiânica da construção do Quinto Império.



 Relação intertextual com os Lusíadas

Os Lusíadas

Mensagem
-   Homens reais com dimensões heróicas mas verosímeis;
-    Heróis de carne e osso, bravos mas nunca infalíveis;
-   Heróis mitificados, desincarnados, carregando dimensões simbólicas
  Brasão ® Terra ® Nun’Álvares Pereira
  Mar Português ® Mar ® Infante D. Henrique
O encoberto ® Ar ® D. Sebastião
(de uma terra de dimensões conhecidas parte-se à descoberta do mar e constrói-se um império. Depois o império se desfez e o sonhos e o Encoberto são a raiz a esperança de um Quinto Império)
-    Herói colectivo: o povo português
-    Virtudes e manhas
-      Heróis individuais exemplares (símbolos)
-    D. Sebastião a quem Os Lusíadas são dedicados;
“tenro e novo ramo”        
-     D. Sebastião mito “loucura sadia”
Sonho, ambição
(repare-se que d. Sebastião é a última figura da história a ser mencionada, como se se quisesse dizer que Portugal mergulhou, depois do seu desaparecimento num longo período de letargia)
-   Celebração do passado – história
- Glorificação do futuro – símbolos
-   Messianismo o motor real de Portugal
            
-    Narrativa comentada da história de Portugal (cf. Jorge Borges de Macedo)
Teoria da história de Portugal
-            Metafísica do Ser português
- Três mitos fundamentais:
o        Adamastor
o        Velho do restelo
o       A ilha dos amores
-           Tudo é mito
“o mito é o nada que é tudo”
-      Ação
-  Contemplação
- Altiva rejeição do real
-     Império feito e acabado
-    Portugal indefinido, atemporal
-     
- Saudade profética ® saudades do futuro
-  Façanhas dos barões assinalados
-  Matéria dos sonhos
-  Temporalidade
- Atemporalidade mística
-  Síntese pagão e cristão
-  Síntese total (sincretismo religioso)
-  D. Sebastião como enviado de Deus para alargar a Cristandade
- Portugal como instrumento de Deus
(os heróis cumprem um destino que os ultrapassa)
-  Cabeça da Europa
-  Rosto da Europa que aguarda expectante o que virá