quinta-feira, 27 de outubro de 2011

"Vem sentar-te comigo, Lidia à beira do rio" (Ricardo Reis)

O poema " Vem sentar-te comigo, Lídia à beira do rio", é para mim um dos poemas que mais gosto da obra de Fernando Pesssoa. Fica então a sugestão, espero que gostem!




Quando-Síntese da poética de Ricardo Reis

Na sequência do estudo do heterónimo Ricardo Reis, apresento dois quadros onde se apresenta sintetizado os aspectos temáticos que efectivamente particularizam a sua poética.
 
Aspectos temáticos

Aspectos formais
·         Conciliação da moral epicurista e da moral estóica;
·         Exercício de autodisciplina, renunciando às fortes emoções;
·         Procura da ataraxia;
·         Demissão da vida através de compromissos afetivos e sociais;
·         Defesa da “áurea mediocritas”;
·         Elogio do “carpe diem” – a vivência do momento presente;
·         Presença do fatalismo – o destino é força superior ao homem;
·         Aceitação calma do destino;
·         Consciência da inutilidade de qualquer esforço de mudanças – atitude de renúncia;
·         Obsessão da efemeridade da vida;
·         Consciência da fugacidade do tempo;
·         Aparente tranquilidade, na qual se reconhece a angústia existencial do ortónimo;
·         Presença do paganismo – os deuses também eles submetidos á força do Fado;
·         Intenção didática dos seus versos.
·         Uso de vocabulário erudito;
·         Recurso a arcaísmos;
·         Formas estróficas e métricas de influência clássica – ode;
·         Sintaxe alatinada – anástrofe e hipérbato;
·         Predomínio da subordinação;
·         Frequência dos advérbios de modo;
·         Uso frequente do gerúndio;
·         Uso do imperativo com manifestação de atitude filosófica;
·         Coloquialidade – diálogo permanente com um “tu”.

Ricardo reis – o clássico

Heterónimo de Fernando Pessoa

Carta ancestral elaborada por Ricardo Reis.

Após conclusão do estudo do heterónimo Alberto Caeiro, hoje em aula iniciamos o estudo de um novo heterónimo, Ricardo Reis, o poeta filósofo que se inspira na antiguidade clássica.
 A partir da carta de Fernando Pessoa a Adolfo Casais Monteiro, Ricardo Reis:
  • ·         Nasceu no Porto (1887);
  • ·         Foi educado num colégio de jesuítas ;
  • ·         ”É latinista por educação alheia e semi-helenista por educação própria”;
  • ·         Forma-se em Medecina;
  • ·         Exila-se no Brasil, devido às suas convicções monárquicas, em 1919:
  • ·         Interesse pela cultura Clássica, Romana (latina) e Grega (helénica).
Fisicamente:
  • ·         ”Um pouco mais baixo, mas forte, mais seco” do que Caeiro;
  • ·         ” de um vago moreno”; cara rapada;

 Ricardo Reis, também discípulo de Caeiro, que admira pela calma serenidade com que encara a vida, procura atingir a paz e o equilíbrio do seu mestre.
Os textos de Ricardo Reis mantêm o equilíbrio próprio do Espírito Clássico, conseguido por uma engenhosa harmonia entre o epicurismo e o estoicismo.
Ricardo Reis, heterónimo de Fernando Pessoa, é o poeta clássico, da serenidade epicurista, que aceita, com calma lucidez, a relatividade e a fugacidade de todas as coisas. “Vem sentar-te comigo Lídia, à beira do rio”, “Prefiro rosas, meu amor, à pátria” ou “Segue o teu destino” são poemas que nos mostram que este discípulo de Caeiro aceita a antiga crença nos deuses, enquanto disciplinadora das nossas emoções e sentimentos, mas defende, sobretudo, a busca de uma felicidade relativa alcançada pela indiferença à perturbação.
A filosofia de Ricardo Reis é a de um epicurismo triste, pois defende o prazer do momento, o “carpe diem”, como caminho da felicidade, mas sem ceder aos impulsos dos instintos. Apesar deste prazer que procura e da felicidade que deseja alcançar, considera que nunca se consegue a verdadeira calma e tranquilidade – ataraxia.
Ricardo Reis propõe, assim, uma filosofia moral de acordo com os princípios do epicurismo e uma filosofia estóica:
  • ·         “Carpe diem” (aproveitai o dia), ou seja, aproveitai a vida em cada dia, como caminho da felicidade;
  • ·         Buscar a felicidade com tranquilidade (ataraxia);
  • ·         Não ceder aos impulsos dos instintos (estoicismo);
  • ·         Procurar a calma, ou pelo menos, a sua ilusão;
  • ·         Seguir o ideal ético da apatia que permite a ausência da paixão e a liberdade (sobre esta apenas pesa o Fado).

O heterónimo, que adquiriu a lição do paganismo espontâneo de Alberto Caeiro, cultiva um neoclassicismo neo-pagão (crê nos deuses e nas presenças quase divinas que habitam todas as coisas), recorrendo à mitologia greco-latina, e considera a brevidade, a fugacidade e a transitoriedade da vida, pois sabe que o tempo passa e tudo é efémero. Daí fazer a apologia da indiferença solene diante o poder dos teus e do destino inelutável. Considera que a verdadeira sabedoria de vida é viver de forma equilibrada e serena, “sem desassossegos grandes”.
A precisão verbal e o recurso à mitologia, associados aos princípios da moral e da estética epicuristas e estóicas ou à tranquila resignação ao destino, são marcas do classicismo erudito de Reis. Poeta clássico da serenidade, Ricardo Reis privilegia a ode, o epigrama e a elegia. A frase concisa e a sintaxe clássica latina, frequentemente com a inversão da ordem lógica (hipérbatos), favorecem o ritmo das suas ideias lúcidas e disciplinadas.
A filosofia deste poeta rege-se pelo ideal “Carpe Diem” – a sabedoria consiste em saber-se aproveitar o presente, porque se sabe que a vida é breve. Há que nos contentarmos com o que o destino nos trouxe. Há que viver com moderação, sem nos apegarmos às coisas, e por isso as paixões devem ser comedidas, para que a hora da morte não seja demasiado dolorosa.
  • ·         A concepção dos deuses como um ideal humano;

  • ·         As referências aos deuses da Antiguidade (neo-paganismo) greco-latina são uma forma de referir a primazia do corpo, das formas, da natureza, dos aspectos exteriores, da realidade, sem cuidar da subjectividade ou da interioridade - ensinamentos de Caeiro, o mestre de todos os heterónimos;


  • ·         A recusa de envolvimento nas coisas do mundo e dos homens.

domingo, 16 de outubro de 2011

Quadro-síntese (síntese da poética de Alberto Caeiro)

No quadro a seguir que vos apresento, aparecem sistematizados os principais aspectos temáticos e formais que individualizam a produção poética de Alberto Caeiro.




Aspectos temáticos

Aspectos formais

·         Mestre de todos os sujeitos poéticos pessoanos, incluindo o ortónimo;
·         Pastor por metáfora;
·         Relação pacífica e serena consigo próprio, com os outros e com a vida;
·         Poeta do real objectivo, observado com olhar ingénuo e puro;
·         Relação íntima e direta com a Natureza – panteísmo sensualista;
·         Submissão do Homem às leis da Natureza – a vida e a morte são realidades e verdades absolutas;
·         Tentativa de combater o vício de pensar;
·         Predomínio do sentir em relação ao pensar
·         Predomínio das sensações visuais;
·         vivência do presente, recusando o passado e o futuro, enquanto elaborações mentais;
·         visão pagã da existência – a única verdade das coisas é a sensação;
·         renúncia de atitudes de especulação filosófica – “pensar é não compreender” ;
·         falsa ingenuidade.
·         Linguagem simples e objectiva, a nível lexical e sintático;
·         metáforas e comparações concretizantes;
·         repetições anafóricas;
·         paralelismo sintáticos;
·         uso do polissíndeto;
·         presença de assíndetos;
·         tautologias1;
·         prosaísmo2;
·         predomínio do emprego da coordenação;
·         predomínio do presente do indicativo;
·         lirismo espontâneo e ingénuo;
·         liberdade estrófica, métrica e rimática


1Tautologia – uso de palavras diferentes para expressar uma mesma ideia, redundância; pleonasmo.
2Prosaísmo – emprego de expressões ou contruções próprias dos textos em prosa.

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Produção escrita- A importância da literatura para o ser humano

            Escrever é esquecer. A literatura é a maneira mais agradável de ignorar a vida” É de facto bastante importante o papel da literatura na vida do ser humano, já dizia Fernando pessoa “ Essa simula a vida”. Quando falamos em literatura ou meditamos sobre o assunto, desde logo pensamos em grandes escritores que marcaram a história com a sua escrita, Shakespeare, Dante, Fernando Pessoa, Camões… Talvez nos surgem na nossa memória, porque naquilo que escrevem transmitem-nos uma “mensagem”, mensagem essa, tão importante, que muitas vezes acaba por orientar as nossas vidas.
O união que existe entre a literatura e o ser humano é fundamental, é aprender o que e como somos em toda a nossa humanidade, com as nossas ações, e os nossos sonhos. Esse conhecimento encontra-se apenas na literatura.
Ao longo da História, a literatura tem proporcionado efeitos benéficos em toda a Humanidade. Vejamos: na área da linguagem podemos verificar que uma sociedade sem literatura escrita encontra graves problemas de expressão, pois precisa de clareza, correção e profundidade. Um contraste muito diferente de uma sociedade instruída literariamente e cultivada nos textos literários. Desta forma podemos aferir que a literatura é cultura, é expressão, é libertação!
Outro fundamento para se conceder à literatura um lugar de notoriedade na vida do ser humano, é que sem ela, a nosso pensamento crítico, a razão, verdadeiro piloto da mudanças e melhor protecção da liberdade, sofreria uma perda irreparável. A literatura alimenta o nosso espírito crítico, o nosso fundamento, dando asas a nossa imaginação, é como se nos libertasse-mos de nós próprios, usufruindo de uma poder sem limites.
O que seria a nossa vida sem romances? A vida com romances torna-se mais bela, mais perfeita, mais diversa e compreensível. Quiçá seja esta a maior contribuição da literatura para o progresso. Lembrar que o mundo é malfeito e que poderia ser melhor transmite-nos o desejo de o tornar melhor, de criar outra humanidade, com paz e pessoas boas.

                                                                                                      Ana Baião nº1 12º B

A poesia das sensações, da natureza e da harmonia das coisas

Gostei bastante do poema V  de O guardador de Rebanhos  e decidi publica-lo.

Fica então a sugestão:


Há metafísica bastante em não pensar em nada.

O que penso eu do mundo?
Sei lá o que penso do mundo!
Se eu adoecesse pensaria nisso

Que ideia tenho eu das cousas?
Que opinião tenho sobre Deus e a alma
E sobre a criação do mundo?
Não sei. Para mim pensar nisso é fechar os olhos
E não pensar. É correr as cortinas
Da minha janela (mas ela não tem cortinas).

O mistério das cousas? Sei lá o que é mistério!
O único mistério é haver quem pense no mistério.
Quem está ao sol e fecha os olhos,
Começa a não saber o que é o sol
E a pensar muitas cousas cheias de calor.
Mas abre os olhos e vê o sol,
E já não pode pensar em nada,
Porque a luz do sol vale mais que os pensamentos
De todos os filósofos e de todos os poetas.
A luz do sol não sabe o que faz
E por isso não erra e é comum e boa.

Metafísica? Que metafísica têm aquelas árvores?
A de serem verdes e copadas e de terem ramos
E a de dar fruto na sua hora, o que não nos faz pensar,
A nós, que não sabemos dar por elas.
Mas que melhor metafísica que a delas,
Que é a de não saber para que vivem
Nem saber que o não sabem?

"Constituição íntima das cousas"...
"Sentido íntimo do universo"...
tudo isto é falso, tudo isto não quer dizer nada.
É incrível que se possa pensar em cousas dessas.
É como pensar em razões e fins
Quando o começo da manhã está raiando, e pelos lados das árvores
Um vago ouro lustroso vai perdendo a escuridão.

Pensar no sentido íntimo das cousas
É acrescentado, é como pensar na saúde
Ou levar um copo à água das fontes.

O único sentido íntimo das cousas
É elas não terem sentido íntimo nenhum.

Não acredito em Deus porque nunca o vi.
Se ele quisesse que eu acreditasse nele,
Sem dúvida que viria falar comigo
E entraria pela minha porta dentro
Dizendo-me, Aqui estou!

(Isto é talvez ridículo aos ouvidos
De quem, por não saber o que é olhar para as cousas,
Não compreende quem fala delas
Com o modo de falar que reparar para elas ensina.)

Mas se Deus é as flores e as árvores
E os montes e sol e o luar,
Então acredito nele,
Então acredito nele a toda a hora,
E a minha vida é toda uma oração e uma missa,
E uma comunhão com os olhos e pelos ouvidos.
Mas se Deus é as árvores e as flores
E os montes e o luar e o sol,
Para que lhe chamo eu Deus?
Chamo-lhe flores e árvores e montes e sol e luar;
Porque, se ele se fez, para eu o ver,
Sol e luar e flores e árvores e montes,
Se ele me aparece como sendo árvores e montes
E luar e sol e flores,
É que ele quer que eu o conheça
Como árvores e montes e flores e luar e sol.

E por isso eu obedeço-lhe,
(Que mais sei eu de Deus que Deus de si próprio?),
Obedeço-lhe a viver, espontaneamente,
Como quem abre os olhos e vê,
E chamo-lhe luar e sol e flores e árvores e montes,
E amo-o sem pensar nele,
E penso-o vendo e ouvindo,
E ando com ele a toda a hora.
Camille Pissarro, Les chataigniers a Osny, 1873 - Um exemplo de bucolismo




O panteísmo sensualista de Caeiro está bem presente, visto que estamos perante o afirmar da religião da Natureza - "Mas se Deus é as flores e as árvores" / E os montes e sol e o luar, / Então acredito nele, / Então acredito nele a toda a hora, / E a minha vida é toda uma oração e uma missa, / E uma comunhão com os olhos e pelos ouvidos ."

Alberto Caeiro - " o Mestre", "o pastor por metáfora"

Na sequência do estudo da poética de Fernando Pessoa, vou direcionar-me um pouco para os seus heterónimos e começar por vos falar um pouco de Alberto Caeiro, a quem Fernando Pessoa chama  de O Mestre. Mestre de Fernando Pessoa e de todos os heterónimos.

Aspectos “biográficos”
  • ·         Nasce em Lisboa, a 16 de Abril de 1899.
  • ·         Órfão de pai e mãe, herda uma pequena quantia de uma tia, o que lhe permite mudar-se para o campo,onde vive até morrer.
  • ·         Louro, de olhos azuis, tem apenas a quarta classe, nunca tendo exercido nenhuma profissão.

Todos os “sujeitos poéticos” pessoanos consideram Caeiro como  “o Mestre”, porque  ele é o único que consegue atingir a paz, a tranquilidade e a serenidade através da recusa do pensamento e d privilegiar do sentir: “ Eu não tenho filosofia, tenho sentidos”.
Caeiro eleva-se na constelação poética pessoana porque descobriu o segredo da felicidade, ao recusar o pensamento  e ao optar pelo concreto: “sinto todo o meu corpo deitado na realidade, / sei a verdade e sou feliz”.
Os poemas de Caeiro estão reunidos em três colectâneas: O Guardados de Rebanhos, O Pastor Amoroso e Poemas Inconjuntos.
Os textos de Caeiro de O Guardador de Rebanhos põem  a tónica  na vertente campestre, na vertente bucólica e instintiva, evidenciando a linearidade da linguagem poética. É, pois, o heterónimo que mais radicalmente difere de Pessoa ortónimo, visto o seu universo poético ser linear, sem profundidade, despojado de toda a subjectividade de sentido. Caeiro pretende ser o “descobridor da Natureza”, negando que a natureza tenha significados ocultos. As coisas são o que são, resumem-se à sua aparência e ao poeta cabe aceitá-las como elas são, sem pensar, porque “pensar é não compreender…”. Para o heterónimo, o mundo é claro, evidente, simplesmente é – ser é único valor possivel. O conhecimento chega apenas pelo olhar puro – “Vi como um danado”.

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Macacos de imitação (apresentação oral)




Símios muito humanos
 
97 por Cento Humanos: foi este o título que o fotógrafo australiano Arthur Xanthopoulos deu a esta série de retratos de primatas do zoo de Melbourne. Para além da semelhança genética, impressionam-nos os seus gestos, tão nossos.
Estes primatas têm a capacidade de reconhecer que lhes apontei uma câmara e estou a tirar fotografias. Mudam de atitude na minha presença e interagem comigo como o faria um modelo humano”, diz Arthur Xanthopoulos, o autor destas imagens. A sua intenção é mostrar através da objectiva a personalidade única de cada símio, reflectida na sua atitude, no seu olhar e nos seus gestos. Os rostos simiescos definem o título do projecto, 97 Percent Human, que mostra como estamos próximo dos orangotangos e gorilas imortalizados por este fotógrafo australiano de 38 anos.
Xanthopoulos, que vive em Melbourne e conhece bem o parque zoológico da cidade, aplicou com eles as técnicas usadas nos retratos de bebés e crianças para obter os seus traços mais expressivo e conseguir que as suas emoções transpareçam nas fotos. Para começar, trabalhou uma relação com os animais, até ganhar a sua confiança. A sua amizade com o pessoal do zoo facilitou-lhe o acesso à intimidade dos símios e permitiu-lhe penetrar em cantos e procurar enfoques que permanecem ocultos dos turistas e visitantes convencionais.

O artista prefere fazer as suas fotos quando o céu está coberto e a luz é apenas a necessária para fazer aflorar os traços mais caracte­rísticos dos seus modelos: “Não sou daqueles que sacam da câmara e começam a disparar em todas as direcções. Gosto de procurar o melhor ângulo e esperar que os animais se aproximem do meu campo de visão. Como já os conheço, posso intuir se vão colaborar ou não com cada ideia. É uma questão de paciência”, diz o fotógrafo, apaixonado pelos nossos parentes mais próximos. “Talvez não devam ter direitos, no sentido humano do termo, mas revelam emoções e empatia, e merecem o nosso respeito”, conclui.



O trabalho de Xanthopoulos pode ser visto em http://www.damaged­photography.com.

A génese dos heterónimos

A tendência neurótica ou psicótica que era atribuída a Pessoa manifesta-se em sintomas de despersonalização. O processo de heteronímia por ele iniciado a 8 de Março de 1914, dia considerado pelo poeta como “triunfal” (nascimento de Caeiro com dezanove poemas de O Guardador de Rebanhos, consciência da existência de Reis e aparecimento impetuoso de Campos com a sua Ode triunfal”) dá conta dessa tendência de multiplicação em varias personalidades, o que o leva a considerar-se um “poeta dramático” e afirma “não evoluo, viajo”.
Permanentemente preocupado e angustiado com a sua existência múltipla, Pessoa perspectiva em cada heterónimo um fragmento de uma totalidade a que aspira, de forma irremediável, porque cada um, á sua maneira, sofre da mesma angustia de existir.
         Vejamos então estas “várias figuras irreais” que pessoa confere realidade e que assumem, através da imaginação do poeta, uma identidade construída com padrões de verosimilhança:




Alberto Caeiro -Surgiu de uma partida que Pessoa queria fazer a Mário de Sá-Carneiro (inventar um  poeta bucólico e apresentar-lho em qualquer espécie de realidade). Abrindo como titulo O guardador de Rebanhos aparece o Mestre( Alberto Caeiro)


·         Nasce em Lisboa, em 1889, e morre tuberculoso em 1915, vivendo a maior parte da sua vida no campo. Apresenta estrutura média e um aspecto frágil, louro sem cor, cara rapada e olhos azuis. Não tem profissão, apenas fez a instrução primária; fica órfão de país muito jovem e vive com uma avó tia-avó, com pequenos rendimentos.


Álvaro de Campos  Surge como discípulo de Alberto Caeiro


·         Nasce em Tavira, a 15 de Outubro de 1890, à 1:30 da tarde. Branco e moreno, de cara rapada e cabelo liso com risca ao lado, usa monóculo e faz lembrar um judeu português. É alto (1,75m), magro, um pouco curvado. Forma se em Engenharia Naval, em Glasgow, tem um percurso cosmopolita- Londres, Escócia, Oriente – frequenta os melhores hotéis e conduz um chervolet.


Ricardo Reis - É conhecido como o mais clássico dos heterónimos pessoanos

·        Nasce em 1887, no Porto, é educado num colégio de jesuítas, recebendo uma educação latinista e tornando-se, por autodidactismo, um amante da cultura helénica. É mais baixo, mais forte e mais seco que Caeiro, e, tal como ele, de cara rapada. Forma-se em Medicina e exila-se voluntariamente no Brasil, a partir de 1919, por ser monárquico.





                                                                                            in carta de Pessoa a Adolfo Casais Monteiro