Heterónimo de Fernando Pessoa
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Carta ancestral elaborada por Ricardo Reis. |
Após conclusão do estudo do heterónimo Alberto Caeiro, hoje em aula iniciamos o estudo de um novo heterónimo, Ricardo Reis, o poeta filósofo que se inspira na antiguidade clássica.
A partir da carta de Fernando Pessoa a Adolfo Casais Monteiro, Ricardo Reis:
· Nasceu no Porto (1887);
· Foi educado num colégio de jesuítas ;
· ”É latinista por educação alheia e semi-helenista por educação própria”;
· Forma-se em Medecina;
· Exila-se no Brasil, devido às suas convicções monárquicas, em 1919:
· Interesse pela cultura Clássica, Romana (latina) e Grega (helénica).
Fisicamente:
· ”Um pouco mais baixo, mas forte, mais seco” do que Caeiro;
· ” de um vago moreno”; cara rapada;
Ricardo Reis, também discípulo de Caeiro, que admira pela calma serenidade com que encara a vida, procura atingir a paz e o equilíbrio do seu mestre.
Os textos de Ricardo Reis mantêm o equilíbrio próprio do Espírito Clássico, conseguido por uma engenhosa harmonia entre o epicurismo e o estoicismo.
Ricardo Reis, heterónimo de Fernando Pessoa, é o poeta clássico, da serenidade epicurista, que aceita, com calma lucidez, a relatividade e a fugacidade de todas as coisas. “Vem sentar-te comigo Lídia, à beira do rio”, “Prefiro rosas, meu amor, à pátria” ou “Segue o teu destino” são poemas que nos mostram que este discípulo de Caeiro aceita a antiga crença nos deuses, enquanto disciplinadora das nossas emoções e sentimentos, mas defende, sobretudo, a busca de uma felicidade relativa alcançada pela indiferença à perturbação.
A filosofia de Ricardo Reis é a de um epicurismo triste, pois defende o prazer do momento, o “carpe diem”, como caminho da felicidade, mas sem ceder aos impulsos dos instintos. Apesar deste prazer que procura e da felicidade que deseja alcançar, considera que nunca se consegue a verdadeira calma e tranquilidade – ataraxia.
Ricardo Reis propõe, assim, uma filosofia moral de acordo com os princípios do epicurismo e uma filosofia estóica:
· “Carpe diem” (aproveitai o dia), ou seja, aproveitai a vida em cada dia, como caminho da felicidade;
· Buscar a felicidade com tranquilidade (ataraxia);
· Não ceder aos impulsos dos instintos (estoicismo);
· Procurar a calma, ou pelo menos, a sua ilusão;
· Seguir o ideal ético da apatia que permite a ausência da paixão e a liberdade (sobre esta apenas pesa o Fado).
O heterónimo, que adquiriu a lição do paganismo espontâneo de Alberto Caeiro, cultiva um neoclassicismo neo-pagão (crê nos deuses e nas presenças quase divinas que habitam todas as coisas), recorrendo à mitologia greco-latina, e considera a brevidade, a fugacidade e a transitoriedade da vida, pois sabe que o tempo passa e tudo é efémero. Daí fazer a apologia da indiferença solene diante o poder dos teus e do destino inelutável. Considera que a verdadeira sabedoria de vida é viver de forma equilibrada e serena, “sem desassossegos grandes”.
A precisão verbal e o recurso à mitologia, associados aos princípios da moral e da estética epicuristas e estóicas ou à tranquila resignação ao destino, são marcas do classicismo erudito de Reis. Poeta clássico da serenidade, Ricardo Reis privilegia a ode, o epigrama e a elegia. A frase concisa e a sintaxe clássica latina, frequentemente com a inversão da ordem lógica (hipérbatos), favorecem o ritmo das suas ideias lúcidas e disciplinadas.
A filosofia deste poeta rege-se pelo ideal “Carpe Diem” – a sabedoria consiste em saber-se aproveitar o presente, porque se sabe que a vida é breve. Há que nos contentarmos com o que o destino nos trouxe. Há que viver com moderação, sem nos apegarmos às coisas, e por isso as paixões devem ser comedidas, para que a hora da morte não seja demasiado dolorosa.
· As referências aos deuses da Antiguidade (neo-paganismo) greco-latina são uma forma de referir a primazia do corpo, das formas, da natureza, dos aspectos exteriores, da realidade, sem cuidar da subjectividade ou da interioridade - ensinamentos de Caeiro, o mestre de todos os heterónimos;