terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Alvaros de Campos - Traços da sua Poética

  •    Poeta modernista
  •   poeta sensacionista (odes)
  •   cantor das cidades e do cosmopolitanismo (“Ode Triunfal”)
  •    cantor da vida marítima em todas as suas dimensões (“Ode Marítima”)
  •    cultor das sensações sem limite
  •    poeta do verso torrencial e livre
  •    poeta em que o tema do cansaço se torna fulcral
  •    poeta da condição humana partilhada entre o nada da realidade e o tudo dos sonhos (“Tabacaria”)
  •    observador do quotidiano da cidade através do seu desencanto
  •    poeta da angústia existencial e da auto-ironia

       1ª FASE DE ÁLVARO DE CAMPOS – DECADENTISMO (“Opiário”, somente)
  •    abulia, tédio de viver
  •   procura de sensações novas
  •   busca de evasão

       2ª FASE DE ÁLVARO DE CAMPOS
  1. Futurismo
  •  elogio da civilização industrial e da técnica (“Ó rodas, ó engrenagens, r-r-r-r-r-r eterno!”, Ode Triunfal)
  •   ruptura com o subjectivismo da lírica tradicional
  •    atitude escandalosa: transgressão da moral estabelecida
2.        Sensacionismo
  •   vivência em excesso das sensações (“Sentir tudo de todas as maneiras” – afastamento de Caeiro)
  •    sadismo e masoquismo (“Rasgar-me todo, abrir-me completamente,/ tornar-me passento/ A todos os perfumes de óleos e calores e carvões...”, Ode Triunfal)
  •    cantor lúcido do mundo moderno

       3ª FASE DE ÁLVARO DE CAMPOS – PESSIMISMO
  •   dissolução do “eu”
  •   a dor de pensar
  •   conflito entre a realidade e o poeta
  •    cansaço, tédio, abulia
  •    angústia existencial
  •    solidão 
  •  nostalgia da infância irremediavelmente perdida (“Raiva de não ter trazido o passado roubado na algibeira!”, Aniversário)

      TRAÇOS ESTILÍSTICOS
  •   verso livre, em geral, muito longo
  •    assonâncias, onomatopeias (por vezes ousadas), aliterações (por vezes ousadas)
  •   grafismos expressivos
  •    mistura de níveis de língua
  •    enumerações excessivas, exclamações, interjeições, pontuação emotiva
  •    desvios sintácticos
  •    estrangeirismos, neologismos
  •    subordinação de fonemas
  •   construções nominais, infinitivas e gerundivas
  •   metáforas ousadas, oximoros, personificações, hipérboles
  • estética não aristotélica na fase futurista

Alvaro de Campos- " O engeneiro Naval"

Álvaro de Campos nasceu em Tavira no dia 15 de Outubro de 1890 à 1.30 da tarde.
Teve “uma educação vulgar de liceu; depois foi mandado para a Escócia estudar engenharia, primeiro mecânica e depois naval. Numas férias fez a viagem ao Oriente de onde resultou o Opiário. Ensinou-lhe Latim um tio beirão que era padre.”
De tipo vagamente judeu português, com a pele entre branca e morena, cabelo liso e normalmente apartado ao lado, usa monóculo.
Na Carta a Adolfo Casais Monteiro, de 13 de Janeiro de 1935, que Fernando Pessoa compõe sobre a génese da heteronímia e que serve de fonte a este texto, diz que escreve em nome de Campos, “quando sinto um súbito impulso para escrever e não sei o quê”. Acrescenta o escritor que “de repente, e em derivação oposta à de Ricardo Reis, surgiu-me impetuosamente um novo indivíduo. Num jacto, e à máquina de escrever, sem interrupção nem emenda, surgiu a «Ode Triunfal» de Álvaro de Campos — a Ode com esse nome e o homem com o homem que tem”.
Mais adiante esclarece: “Quando foi da publicação do Orpheu, foi preciso, à última hora, arranjar qualquer coisa para completar o número de páginas. Sugeri então ao Sá-Carneiro que eu fizesse um poema «antigo» do Álvaro de Campos — um poema de como o Álvaro de Campos seria antes de ter conhecido Caeiro e ter caído sob a sua influência. E assim fiz o «Opiário», em que tentei dar todas as tendências latentes do Álvaro de Campos, conforme haviam de ser depois reveladas, mas sem haver ainda qualquer traço de contacto com o seu mestre Caeiro. Foi dos poemas, que tenho escrito, o que me deu mais que fazer, pelo duplo poder de despersonalização que tive que desenvolver. Mas, enfim, creio que não saiu mau, e que dá o Álvaro em botão…    




quinta-feira, 27 de outubro de 2011

"Vem sentar-te comigo, Lidia à beira do rio" (Ricardo Reis)

O poema " Vem sentar-te comigo, Lídia à beira do rio", é para mim um dos poemas que mais gosto da obra de Fernando Pesssoa. Fica então a sugestão, espero que gostem!




Quando-Síntese da poética de Ricardo Reis

Na sequência do estudo do heterónimo Ricardo Reis, apresento dois quadros onde se apresenta sintetizado os aspectos temáticos que efectivamente particularizam a sua poética.
 
Aspectos temáticos

Aspectos formais
·         Conciliação da moral epicurista e da moral estóica;
·         Exercício de autodisciplina, renunciando às fortes emoções;
·         Procura da ataraxia;
·         Demissão da vida através de compromissos afetivos e sociais;
·         Defesa da “áurea mediocritas”;
·         Elogio do “carpe diem” – a vivência do momento presente;
·         Presença do fatalismo – o destino é força superior ao homem;
·         Aceitação calma do destino;
·         Consciência da inutilidade de qualquer esforço de mudanças – atitude de renúncia;
·         Obsessão da efemeridade da vida;
·         Consciência da fugacidade do tempo;
·         Aparente tranquilidade, na qual se reconhece a angústia existencial do ortónimo;
·         Presença do paganismo – os deuses também eles submetidos á força do Fado;
·         Intenção didática dos seus versos.
·         Uso de vocabulário erudito;
·         Recurso a arcaísmos;
·         Formas estróficas e métricas de influência clássica – ode;
·         Sintaxe alatinada – anástrofe e hipérbato;
·         Predomínio da subordinação;
·         Frequência dos advérbios de modo;
·         Uso frequente do gerúndio;
·         Uso do imperativo com manifestação de atitude filosófica;
·         Coloquialidade – diálogo permanente com um “tu”.

Ricardo reis – o clássico

Heterónimo de Fernando Pessoa

Carta ancestral elaborada por Ricardo Reis.

Após conclusão do estudo do heterónimo Alberto Caeiro, hoje em aula iniciamos o estudo de um novo heterónimo, Ricardo Reis, o poeta filósofo que se inspira na antiguidade clássica.
 A partir da carta de Fernando Pessoa a Adolfo Casais Monteiro, Ricardo Reis:
  • ·         Nasceu no Porto (1887);
  • ·         Foi educado num colégio de jesuítas ;
  • ·         ”É latinista por educação alheia e semi-helenista por educação própria”;
  • ·         Forma-se em Medecina;
  • ·         Exila-se no Brasil, devido às suas convicções monárquicas, em 1919:
  • ·         Interesse pela cultura Clássica, Romana (latina) e Grega (helénica).
Fisicamente:
  • ·         ”Um pouco mais baixo, mas forte, mais seco” do que Caeiro;
  • ·         ” de um vago moreno”; cara rapada;

 Ricardo Reis, também discípulo de Caeiro, que admira pela calma serenidade com que encara a vida, procura atingir a paz e o equilíbrio do seu mestre.
Os textos de Ricardo Reis mantêm o equilíbrio próprio do Espírito Clássico, conseguido por uma engenhosa harmonia entre o epicurismo e o estoicismo.
Ricardo Reis, heterónimo de Fernando Pessoa, é o poeta clássico, da serenidade epicurista, que aceita, com calma lucidez, a relatividade e a fugacidade de todas as coisas. “Vem sentar-te comigo Lídia, à beira do rio”, “Prefiro rosas, meu amor, à pátria” ou “Segue o teu destino” são poemas que nos mostram que este discípulo de Caeiro aceita a antiga crença nos deuses, enquanto disciplinadora das nossas emoções e sentimentos, mas defende, sobretudo, a busca de uma felicidade relativa alcançada pela indiferença à perturbação.
A filosofia de Ricardo Reis é a de um epicurismo triste, pois defende o prazer do momento, o “carpe diem”, como caminho da felicidade, mas sem ceder aos impulsos dos instintos. Apesar deste prazer que procura e da felicidade que deseja alcançar, considera que nunca se consegue a verdadeira calma e tranquilidade – ataraxia.
Ricardo Reis propõe, assim, uma filosofia moral de acordo com os princípios do epicurismo e uma filosofia estóica:
  • ·         “Carpe diem” (aproveitai o dia), ou seja, aproveitai a vida em cada dia, como caminho da felicidade;
  • ·         Buscar a felicidade com tranquilidade (ataraxia);
  • ·         Não ceder aos impulsos dos instintos (estoicismo);
  • ·         Procurar a calma, ou pelo menos, a sua ilusão;
  • ·         Seguir o ideal ético da apatia que permite a ausência da paixão e a liberdade (sobre esta apenas pesa o Fado).

O heterónimo, que adquiriu a lição do paganismo espontâneo de Alberto Caeiro, cultiva um neoclassicismo neo-pagão (crê nos deuses e nas presenças quase divinas que habitam todas as coisas), recorrendo à mitologia greco-latina, e considera a brevidade, a fugacidade e a transitoriedade da vida, pois sabe que o tempo passa e tudo é efémero. Daí fazer a apologia da indiferença solene diante o poder dos teus e do destino inelutável. Considera que a verdadeira sabedoria de vida é viver de forma equilibrada e serena, “sem desassossegos grandes”.
A precisão verbal e o recurso à mitologia, associados aos princípios da moral e da estética epicuristas e estóicas ou à tranquila resignação ao destino, são marcas do classicismo erudito de Reis. Poeta clássico da serenidade, Ricardo Reis privilegia a ode, o epigrama e a elegia. A frase concisa e a sintaxe clássica latina, frequentemente com a inversão da ordem lógica (hipérbatos), favorecem o ritmo das suas ideias lúcidas e disciplinadas.
A filosofia deste poeta rege-se pelo ideal “Carpe Diem” – a sabedoria consiste em saber-se aproveitar o presente, porque se sabe que a vida é breve. Há que nos contentarmos com o que o destino nos trouxe. Há que viver com moderação, sem nos apegarmos às coisas, e por isso as paixões devem ser comedidas, para que a hora da morte não seja demasiado dolorosa.
  • ·         A concepção dos deuses como um ideal humano;

  • ·         As referências aos deuses da Antiguidade (neo-paganismo) greco-latina são uma forma de referir a primazia do corpo, das formas, da natureza, dos aspectos exteriores, da realidade, sem cuidar da subjectividade ou da interioridade - ensinamentos de Caeiro, o mestre de todos os heterónimos;


  • ·         A recusa de envolvimento nas coisas do mundo e dos homens.

domingo, 16 de outubro de 2011

Quadro-síntese (síntese da poética de Alberto Caeiro)

No quadro a seguir que vos apresento, aparecem sistematizados os principais aspectos temáticos e formais que individualizam a produção poética de Alberto Caeiro.




Aspectos temáticos

Aspectos formais

·         Mestre de todos os sujeitos poéticos pessoanos, incluindo o ortónimo;
·         Pastor por metáfora;
·         Relação pacífica e serena consigo próprio, com os outros e com a vida;
·         Poeta do real objectivo, observado com olhar ingénuo e puro;
·         Relação íntima e direta com a Natureza – panteísmo sensualista;
·         Submissão do Homem às leis da Natureza – a vida e a morte são realidades e verdades absolutas;
·         Tentativa de combater o vício de pensar;
·         Predomínio do sentir em relação ao pensar
·         Predomínio das sensações visuais;
·         vivência do presente, recusando o passado e o futuro, enquanto elaborações mentais;
·         visão pagã da existência – a única verdade das coisas é a sensação;
·         renúncia de atitudes de especulação filosófica – “pensar é não compreender” ;
·         falsa ingenuidade.
·         Linguagem simples e objectiva, a nível lexical e sintático;
·         metáforas e comparações concretizantes;
·         repetições anafóricas;
·         paralelismo sintáticos;
·         uso do polissíndeto;
·         presença de assíndetos;
·         tautologias1;
·         prosaísmo2;
·         predomínio do emprego da coordenação;
·         predomínio do presente do indicativo;
·         lirismo espontâneo e ingénuo;
·         liberdade estrófica, métrica e rimática


1Tautologia – uso de palavras diferentes para expressar uma mesma ideia, redundância; pleonasmo.
2Prosaísmo – emprego de expressões ou contruções próprias dos textos em prosa.

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Produção escrita- A importância da literatura para o ser humano

            Escrever é esquecer. A literatura é a maneira mais agradável de ignorar a vida” É de facto bastante importante o papel da literatura na vida do ser humano, já dizia Fernando pessoa “ Essa simula a vida”. Quando falamos em literatura ou meditamos sobre o assunto, desde logo pensamos em grandes escritores que marcaram a história com a sua escrita, Shakespeare, Dante, Fernando Pessoa, Camões… Talvez nos surgem na nossa memória, porque naquilo que escrevem transmitem-nos uma “mensagem”, mensagem essa, tão importante, que muitas vezes acaba por orientar as nossas vidas.
O união que existe entre a literatura e o ser humano é fundamental, é aprender o que e como somos em toda a nossa humanidade, com as nossas ações, e os nossos sonhos. Esse conhecimento encontra-se apenas na literatura.
Ao longo da História, a literatura tem proporcionado efeitos benéficos em toda a Humanidade. Vejamos: na área da linguagem podemos verificar que uma sociedade sem literatura escrita encontra graves problemas de expressão, pois precisa de clareza, correção e profundidade. Um contraste muito diferente de uma sociedade instruída literariamente e cultivada nos textos literários. Desta forma podemos aferir que a literatura é cultura, é expressão, é libertação!
Outro fundamento para se conceder à literatura um lugar de notoriedade na vida do ser humano, é que sem ela, a nosso pensamento crítico, a razão, verdadeiro piloto da mudanças e melhor protecção da liberdade, sofreria uma perda irreparável. A literatura alimenta o nosso espírito crítico, o nosso fundamento, dando asas a nossa imaginação, é como se nos libertasse-mos de nós próprios, usufruindo de uma poder sem limites.
O que seria a nossa vida sem romances? A vida com romances torna-se mais bela, mais perfeita, mais diversa e compreensível. Quiçá seja esta a maior contribuição da literatura para o progresso. Lembrar que o mundo é malfeito e que poderia ser melhor transmite-nos o desejo de o tornar melhor, de criar outra humanidade, com paz e pessoas boas.

                                                                                                      Ana Baião nº1 12º B